sexta-feira, 13 de março de 2009

Débito Automático

Quando te abordaram, num passeio descompromissado ao shopping, você se lembra? Convenceram-te com uma habilidade única e treinada de que sua vida ficaria mais fácil com um crédito, e você acreditou.

Ofereceram-te descontos, limites, formas de parcelamento. Convenceram-te que é cliente especial, e liberaram fortunas a prazo.
Um dia você acorda atrasado, sai às pressas, esquece os óculos, o jornal, e a fatura que chegou atrasada depois de uma greve nacional dos correios.
O dia então começa mal. Você não sabe o que te espera, pois justo nesse dia esqueceu o jornal; não anda bom das vistas e esqueceu os óculos. Ha! E a fatura que chegou atrasada você também esqueceu. O dia realmente vai mal. Você então resolve ligar para a sua central de atendimento (aquela do seu banco preferido que sempre facilita as coisas para você), Por que você é um cliente especial.
Depois de passar trinta minutos esperando na linha, ouvindo aquela enxurrada de promoções, você é atendido.
- Bom dia! Como vai Sr...?
Logo você descobre, após cinco minutos explicando a situação, que ainda é um cliente especial, mas que o banco não tem culpa da greve ods correios, e de sua fatura ter chegado em atraso.
Você berra, faz “caras e bocas” e de nada adianta. No máximo abrem um processo de análise do caso, e pedem que você aguarde um prazo de cinco dias úteis. Você tem que aguardar e terá que cobrir o valor financiado durante o período.
Nesse curto espaço de tempo te apresentam os encargos, os juros de mora, e a tal multa de atraso que somadas dão um produto chamado “contrato”, que você não viu, não leu, não assinou, mas, existe e protegidos por uma lei que você desconhece.
Passam-se os dias úteis e você retorna a ligação e descobre que a sua fatura já foi paga, debitada em sua conta corrente sem saldo.
te abordam com um :
- Obrigado pelo pagamento.
- Que pagamento?
- Entrou o décimo primeiro dia, e como previsto, o valor da fatura foi debitado de sua conta corrente. Está no contrato, o Sr. Lembra-se?

E onde está o contrato que você assinou?
Quando foi que você assinou?
Você assinou...?

segunda-feira, 2 de março de 2009

Onde você mora, aonde você vai ficar?


A espera é cansativa. Sentados num banco na estação de trem da Calçada, todos esperavam o trem chegar. Íamos, víamos, partíamos e chegávamos sempre de algum lugar. O trem era o meio, e no meio do trem havia outros meios. Há vagões que chegam e que vão cheios de esperanças, de reclamações, de buscas que se encontram num destino qualquer, algo traçado no percurso diário.
O trem chega.
Bato-me de ombros com um homem quando entro em um dos vagões. Antecipo uns palavrões, mas a surpresa me condena.
É fulano, filho de cicrano que namora a filha de beltrano. Eu conversava com ele sempre que esperávamos “o trem das sete”. Trabalhávamos no mesmo bairro, e o trem era a nossa intercessão.
No reprimir dos palavrões, percebo que para ele a surpresa não foi, não existiu.
Será que ele não me reconheceu? Pergunto-me, indignada com o descaso do moço.
Sussurro algo ao seu lado, sempre preocupada com o engano: Para onde está indo, fulano? Ele, alheio à pergunta, olha para os lados como se procurasse algo em que distrair o cansaço da espera.

Não responde. Era engano.
O trem arrasta pelos trilhos.
Estamos indo...
A resposta talvez se faça no esquecimento.