segunda-feira, 2 de março de 2009

Onde você mora, aonde você vai ficar?


A espera é cansativa. Sentados num banco na estação de trem da Calçada, todos esperavam o trem chegar. Íamos, víamos, partíamos e chegávamos sempre de algum lugar. O trem era o meio, e no meio do trem havia outros meios. Há vagões que chegam e que vão cheios de esperanças, de reclamações, de buscas que se encontram num destino qualquer, algo traçado no percurso diário.
O trem chega.
Bato-me de ombros com um homem quando entro em um dos vagões. Antecipo uns palavrões, mas a surpresa me condena.
É fulano, filho de cicrano que namora a filha de beltrano. Eu conversava com ele sempre que esperávamos “o trem das sete”. Trabalhávamos no mesmo bairro, e o trem era a nossa intercessão.
No reprimir dos palavrões, percebo que para ele a surpresa não foi, não existiu.
Será que ele não me reconheceu? Pergunto-me, indignada com o descaso do moço.
Sussurro algo ao seu lado, sempre preocupada com o engano: Para onde está indo, fulano? Ele, alheio à pergunta, olha para os lados como se procurasse algo em que distrair o cansaço da espera.

Não responde. Era engano.
O trem arrasta pelos trilhos.
Estamos indo...
A resposta talvez se faça no esquecimento.

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